A SAÚDE PÚBLICA ESTÁ EM RISCO

8 de Fevereiro de 2013

O PAÍS QUE TEMOS, Saúde

O valor mais precioso que qualquer um de nós possui na vida, é a própria vida. Sem um sistema adequado para manutenção da saúde, as nossas expectativas de vida longa e saudável ficam cada vez em maior risco.

Os avanços em medicina, graças às descobertas tecnológicas e científicas do último século e as conquistas sociais nas últimas décadas, contribuíram para um aumento do tempo médio de vida com melhoria de qualidade. Todavia, os progressos do desenvolvimento humano estão cada vez mais em risco de retrocesso em Portugal. Os cortes sociais que o actual governo já aplicou e os que tenciona ainda aplicar, com reduções sociais de mais de 4 mil milhões de euros, vão contribuir para menos equidade; menos justiça social; menos respeito pelos direitos humanos.

Os cortes consecutivos no sistema de saúde, as dificuldades de aquisição de medicamentos mais avançados e eficazes, os entraves de acesso a serviços médicos, como as taxas moderadoras, dificulta as classes mais desfavorecidas da sociedade, a recorrerem a serviços médicos e usufruírem de tratamentos e medicinas mais avançadas e eficientes. Não apenas para tratamento em casos já diagnosticados, como também a consultas médicas de rotina, como prevenção e diagnóstico antecipado. Muitas doenças, quando detectadas precocemente, podem ser evitadas e reduzir sofrimento, muitas vezes irreversível e com custos elevados de tratamentos. Compreende este tipo de prevenção (prevenção secundária), exemplos como rastreio dos cancros do útero, da mama, da próstata, do cólon e recto; rastreio e vigilância da pressão arterial e glicemia.

Há cada vez mais zonas do país, afastadas de centros médicos devidamente equipados e com equipas especializadas em diversas áreas clínicas. Os aumentos dos custos dos transportes públicos e em muitas zonas a escassez dos mesmos, dificulta o acesso a centros médicos adequados para tratamentos essenciais para a sobrevivência de muitos, como doentes dependentes de hemodiálises, tratamentos de fisioterapia e consultas de prevenção para rastreios de muitas doenças.

No respeitante a prevenção primordial, como por exemplo: planos de saúde escolar, planos de segurança no trabalho e programas de segurança alimentar, é indiscutível que, temos legislação. No entanto, muitos destes planos, para além de burocracia excessiva (normal em Portugal), funcionam inadequadamente e cada vez com mais incumprimento, dadas as dificuldades económicas das famílias e das empresas.

Para além dos dois tipos de prevenção acima referidos com exemplos, há ainda mais dois métodos de prevenção a considerar:

Prevenção Terciária – cujos objectivos compreendem:

  • Limitar a progressão da doença
  • Evitar ou diminuir as consequências ou complicações da doença como as insuficiências, incapacidades, sequelas, sofrimento ou ansiedade, morte precoce
  • Promover a adaptação do doente às consequências inevitáveis (situações incuráveis),
  • Prevenir recorrências da doença, ou seja, controla-la e estabiliza-la.

Há excepção de todo o litoral, este tipo de prevenção é quase não existente para a maioria dos portugueses, em muitos distritos do país.

Prevenção Quaternária – Relacionada com populações que se encontram em progressivo envelhecimento (o caso de Portugal), o que contribui para o aumento de doenças crónico-degenerativas e doenças do foro oncológico, com necessidade de cuidados assistenciais de toda a ordem, designadamente continuados e paliativos. As necessidades deste tipo de população requerem a alteração da estrutura familiar e da dinâmica social, como o internamento dos idosos em instituições, por longos e indefinidos períodos de tempo.

As medidas de austeridade aplicadas nos cortes de rendimentos salariais e nas pensões, impossibilita por parte das famílias alterações familiares adequadas de assistência.

Este tipo de prevenção compreende também o acompanhamento no respeitante a medicamentação dos idosos.

A nível de acompanhamento teórico e mesmo legislativo, Portugal pode-se considerar na vanguarda dos países mais desenvolvidos. Mas na prática, na aplicação dos conhecimentos e medidas para a saúde e bem-estar dos cidadãos, o país fica sempre na retaguarda.

A gestão da saúde em Portugal há muito que é mal gerida, a nível do governo nacional, local e da gestão autónoma das instituições hospitalares, permitindo abusos lucrativos de indivíduos, e empresas, como as farmacêuticas. Contudo, a sua gestão deve ser concretizada por especialistas com conhecimentos de gestão de medicina e saúde pública. Em muitos hospitais do país a administração e gestão hospitalar depende da influências dos partidos políticos no governo e de advogados sem conceito ou experiência na saúde. O actual ministro da saúde, Paulo Macedo, para além dos seus vastos conhecimentos e experiência de gestor, desconhece totalmente as bases de um sistema de saúde, limitando-se a fazer cortes sem o mínimo conceito sobre a saúde pública ou respeito pela vida humana.

Os casos de instabilidade na saúde pública são cada vez mais notórios em todas as frentes. Aqui apresento alguns títulos de notícias recentes, relacionadas com a deterioração do sistema da saúde, devido a medidas governamentais de contenção económico, sem respeito pelas condições de sobrevivência e pelo direito à vida:

“Recusa de Medicamentos”. Têm surgido notícias alarmantes sobre racionamento de medicamentos que, a serem verdadeiras, podem configurar comportamentos criminosos. O caso mais nítido é a possível utilização, por certas administrações hospitalares, de medicamentos de custo mais baixo, em detrimento de medicamentos cuja eficácia é muito superior, segundo a Ciência Médica.(Correio da Manhã)

“Conselho defende racionamento de medicamentos para alguns doentes”. O Conselho de Ética para as Ciências da Vida considera aceitável este racionamento após ter analisado os custos do tratamento e efeitos no prolongamento e qualidade de vida dos doentes. (TSF)

“Seg. Social pressiona grávidas a abortar”. Há jovens grávidas carenciadas a quem os técnicos da Segurança Social estão a aconselhar a abortar, apesar de manifestarem o desejo de ter os filhos. (Sol).

“Mulher que deu à luz em ambulância acidentada e filha em observação por precaução” A mulher que hoje deu à luz uma menina numa ambulância dos Bombeiros de Grândola que sofreu um acidente à saída da A12, em Setúbal, está em observação no Hospital de Setúbal, estando mãe e filha em situação estável. (DN).

“Nasce outra criança na A24, sala de partos transmontana” Liliana deu à luz um rapaz. A tarefa coube a José Pinto, que, a 3 de Junho, tinha feito um parto exactamente ao mesmo quilómetro. (DN).

Notícias com estas são cada vez mais frequentes. Compreende-se que muitas destas notícias, de norte a sul do país, apresentam por vezes um lado da história e são muito deficientes em detalhes. Mas, não há fumo sem fogo. Também, os depoimentos por parte das entidades governamentais em procurar esclarecer este tipo de notícias, são geralmente muito vagas e pouco esclarecedoras, deixando mesmo mais suspeitas sobre as intenções governamentais futuras no respeitante a medidas sobre a saúde pública.

O governo atribui todos os cortes na saúde e todos os outros sectores sociais, como fundamentais para sairmos da crise. Mas todos os direitos sociais removidos da constituição, jamais voltarão a ser restabelecidos. A crise que atravessamos ficará por tempo indefinido. Na realidade, Portugal tem vivido sempre em crise económica, sobrevivendo há mais de três décadas de subsídios e empréstimos externos. Essa forma de sobreviver, com os planos do governo de regressar aos mercados financeiros e continuar a crescer a dívida e rolar para os próximos governos, Portugal ficará sempre em crise.

Os cortes na saúde e mesmo na educação, não são a solução.

 

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About Carlos Piteira

Licenciado em Microbiologia pela Maryland University. Especialista em Microbiologia Clínica pela American Society of Clinical Pathologists. Consultor da Qualidade do Ar Interior. Autor do livro: ” A Qualidade do Ar Interior em Instalações Hospitalares”

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10 comentários em “A SAÚDE PÚBLICA ESTÁ EM RISCO”

  1. Gabriel Moreira Says:

    Obrigado pela sua preocupação com a minha pessoa.

    Quando disse que vou mais alto não significa que ande a meter cunhas.

    Procuro fazer a reclamação ajustada no local certo.

    Como apareci neste blog não sei bem, mas parece-me que veio ao meu encontro por email.

    E, como li qualquer coisa que me pareceu desajustado escrevi o que entendi.

    Espero não ter ofendido ninguem.

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  2. RV Says:

    Caros amigos, como a problemática é a saúde pública o DE publicou a noticia que aqui vos deixo e que não é, mais nem menos do que um gravissimo problema de saúde pública e que não pode admitir respostas como esta do Sr. Ministro Relvas:

    “Miguel Relvas revelou que o Grupo de Trabalho para os Assuntos do Território não está a fazer nenhum levantamento de edifícios públicos com amianto porque não tem meios.

    O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, explicou na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local, na Assembleia da República, que o Grupo de Trabalho para os Assuntos do Território não está a fazer nenhum levantamento de edifícios públicos com amianto porque não tem meios.

    A pergunta foi feita pela deputada d’Os Verdes Heloísa Apolónia, que questionou Relvas sobre o cumprimento da Lei 2/2011, que obriga à elaboração de uma listagem de edifícios públicos que contêm amianto, “substância altamente lesiva para a saúde pública e com graves efeitos designadamente cancerígenos”, como explicou.

    A competência para elaborar essa lista pertence ao Grupo de Trabalho para os Assuntos do Território, coordenado por Miguel Relvas, mas o ministro admite não haver meios para fazer esse levantamento e que com o novo quadro comunitário de apoio, depois “logo se verá”.

    “O PEV considera esta resposta de uma leviandade absoluta, indiciando uma verdadeira irresponsabilidade do Governo no que diz respeito à salvaguarda da saúde pública”, diz o partido em comunicado.

    A questão do amianto é gravissima principalmente porque é normalmente a população da faixa etária estudantil que é afetada.

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  3. Gabriel Moreira Says:

    Obrigado. Também desejo isso.

    Mas, sabe, eu não sou de fazer queixinhas em blogs.

    Quando algo não me parece bem, vou mais alto e tenho-me dado bem com esse caminho.

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    • RV Says:

      Sr. Gabriel Moreira, o objetivo dos blogs é exactamente o de opinar ou como refere “queixinhas” se não percebe coisas tão simples como esta não percebo porque colocou o seu post ou porque acede ao blog.

      Passe bem e continue a ir alto, tenha é cuidado com a queda, lá diz o ditado, ” quanto mais alto…”

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  4. RV Says:

    Sr. Gabriel Moreira, espero que continue a ter sorte na vida……..

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  5. Gabriel Moreira Says:

    Sou um cidadão utente do Serviço Nacional de Saúde e ainda não vi, felizmente, as desgraças que publicou.

    Têm-me sido fornecidos medicamentos caros, e tenho sido sujeito a exames igualmente caros.

    Acredito que quem vive em locais afastados dos grandes centros tenha mais dificuldades no acesso aos Hospitais, mas isso sempre assim foi, em Portugal e nos restantes países.

    Deve ser difícil ter um Hospital, com todas as valências, em todas as cidades.

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    • opaisquetemos Says:

      Caro Gabriel Moreira,

      Obrigado pelo seu comentário.

      Parabéns pela sua sorte até ao presente. Eu, Felizmente, apesar da minha idade, ainda nunca tive qualquer necessidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Mas, sendo um profissional da saúde pública, reconheço a degradação total, do SNS. Quando analiso uma situação, não o faço pensando apenas no meu bem-estar; se estou bem, para que me preocupar com aqueles que estão mal? Esse é o mal de Portugal, e a razão pela qual os nossos políticos cada vez degradam mais o país sobre todos os aspectos.

      Concordo que não é viável haver em cada cidade todas as especialidades clínicas e equipamentos adequados. Mas a distribuição de equipamentos e respectivo pessoal especializado, deveria ser melhor gerido, não apenas pelas grandes cidades e muito particularmente todo o litoral de norte a sul, mas também por todo o interior do país. Pelo mínimo dos mínimos, todo o cidadão distante dos centros de especialidades de que tenham necessidade, deveriam ter apoio gratuito de transporte adequado.

      Independente do que afirmei acima, para reactivar a agricultura e outras indústrias em todas as zonas distritais, deve-se providenciar melhor apoio clínico, com mais proximidade de todas as zonas, no sentido de incentivar e motivar com segurança a migração de famílias para o interior do país.

      Devo referir, que quando em Portugal, tenho sempre sido um residente do litoral, junto das cidades com melhor apoio clínico do país. Não obstante, isso não me impede de zelar pela saúde e bem-estar dos meus compatriotas por essas terras distantes.

      Todos somos cidadãos do mesmo país com as mesmas obrigações e direitos.

      Sinceramente,

      Carlos Piteira

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  6. RV Says:

    O relato que vou deixar até podia ser anedota mas é bem verdade e passou-se num dos maiores hospitais públicos de Lisboa:

    Num destes dias deu entrada nas Urgências um Sr. Com o seguinte problema: O “coiso” tinha caído. Mas como o “coiso” não cai sem mais nem menos achou-se estranho, e falou-se com o acompanhante (um vizinho), que referiu que achou melhor acompanhar o Sr. Às urgências porque o mesmo estava a sangrar muito, além de que o mesmo e já com o Sr. Já meio inconsciente verificou que apenas estava pendurado um “tubinho” e que o “coiso” tinha caído.

    Quando se conseguiu finalmente estabilizar o Sr. E prestar os primeiros tratamentos, foi possível saber que todo começou com uma infecção e que o estado de necrose elevado levou à situação descrita, e perguntando ao Sr. Porque não se deslocou ao hospital mais cedo a resposta foi: Eu não tenho dinheiro para pagar, e agora como é?

    Ou seja a todos os nossos governantes, só espero que não lhes caia o “coiso”, pelo menos por estas razões.

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  7. RDC Says:

    Sou pai duma linda menina há cerca de 3 semanas.
    A minha esposa entrou nas URGENCIAS da maternidade às 07h00 da manhã de dia 18 Janeiro, com muitas dores devido às contracções. Simultaneamente entra também uma senhora que tinha sido mãe na semana anterior, mas com uma hemorragia vaginal muito grave.
    Quem nos atendeu no balcão das URGENCIAS (desculpem sublinhar, mas é importante) foi um senhor da empresa de segurança! Não havia mais ninguém! Perguntei-me nessa altura se realmente estava nas urgências ou noutra secção da maternidade… e questionei o segurança onde estava o pessoal médico/enfermeiro. A sua resposta foi: “sou só eu… tenho de ir chamar alguém para vos atender…” e encolheu os ombros.
    Ficámos ainda uns bons 15 minutos à espera que chegasse alguém da enfermaria que no atendesse (estaria a dormitar? ninguém sabe…), enquanto a minha mulher se contorcia com dores e a outra senhora se esvaia em sangue.
    É importante referir isto: não estavam mais nenhuns pacientes à espera de ser atendidos, não havia triagem. Portanto caso os serviços de “urgências”(?!) estivessem a funcionar seriamos atendidos de imediato – mas não, foi necessário o segurança ir chamar alguém e esperar…

    Posteriormente, a minha esposa entra na sala de partos cerca das 08h00, as dores cada vez piores. Epidural foi a anestesia aconselhada. No entanto a médica anestesista só chegaria às 09h00 ao serviço, portanto “aguenta Maria!”.
    Às 09h00 e pouco recebeu a epidural. Esperámos que fizesse efeito, mas nada…. recebeu uma segunda dose…. outra vez nenhum efeito. As dores cada vez piores, de tal forma que já se ouviam os gritos da minha mulher por todo lado e eu sem saber o que fazer. “Ela tem de aguentar, não faz efeito, tem de ser parto normal” dizia uma assistente que estava no quarto connosco (sim, porque a anestesista e o corpo médico, tinham saído ninguém sabia onde andavam…talvez na cafetaria?…mas pronto… não quero entrar por aí…).

    Muito bem, a muito sofrimento a bebé nasceu cheia de saúde! Altura de levar a minha esposa para o quarto com a bebé, um quarto duplo onde já se encontrava outra senhora recém-mãe.
    Qual não é o nosso espanto quando, em conversa sobre a ineficácia da epidural, a senhora nos diz “a mim também não resultou. Foi igualmente parto natural. E a senhora que estava no quarto antes de si também não resultou!”
    Acho muita coincidência, não acham?

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  8. RV Says:

    Mais uma vez…EXCELENTE

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